quinta-feira, janeiro 15, 2015

Consumo de carne vermelha e risco de carcinoma

Consumo de carne vermelha e risco de carcinoma



Tem sido feita  a associação entre um mais alto risco de desenvolvimento de neoplasia nos seres humanos e o consumo de carne vermelha de forma prolongada.


Como os tumores usam a carne vermelha no seu crescimento

Actualmente considera-se que esta associação se deve a um açúcar específico que se encontra na carne vermelha capaz de promover a inflamação e a progressão para o cancro. Este açúcar, denominado ácido siálico N-glicolilneuroamínico não humano ( Neu5Gc ), é encontrado na generalidade dos mamíferos, mas não nos humanos.




A ingestão de carne vermelha é capaz de originar uma inflamação, visto que o sistema imunológico humano constantemente produz anticorpos dirigidos contra uma molécula estranha, o Neu5Gc.
Hipotetiza-se que o Neu5Gc seja capaz também de explicar potenciais conexões entre a ingestão de carne vermelha e outras patologias, para além de neoplasias, que são exacerbadas por processos inflamatórios crónicos, como a aterosclerose e diabetes tipo II.

Moléculas não humanas forrando as nossas artérias

Dado o gene humano CMAH estar mutado de forma irreversível, o Homem é incapaz de sintetizar Neu5Gc. Esta ausência dos tecidos humanos deve-se à inactivação do gene codificador do ácido CMP-N-acetilneuroamínico hidroxilase. O gene CMAH codifica a enzima ácido CMP-N-acetilneuroamínico hidroxilase, enzima esta responsável pela síntese do CMP-Neu5Gc a partir do CMP-N-acetilneuramínico ( CMP-Neu5Ac ) que difere de Neu5Gc apenas por este ter um átomo de oxigéneo a mais que Neu5Ac, adicionado no citosol celular





Pensa-se que os humanos ancestrais sobreviveram à malária, que então prevalecia, através da eliminação da síntese de Neu5Gc. Com o surgimento do Plasmodium falciparum, o parasita que causa a malária, o Homem tornou-se susceptível à nova estirpe do Plasmodium, estirpe esta que tem preferência de ligação aos glóbulos vermelhos ricos em Neu5Ac.

Investigadores tentam explicar a ligação entre carne vermelha e cancro




Neu5Gc encontra-se na generalidade dos mamíferos com a excepção do Homem, onde apenas aparece em traços, visto o gene codificador ter sido eliminado à cerca de 3 milhões de anos. Nos preparados comerciais cerca de 1.1% de Neu5Ac é na verdade Neu5Gc. Neu5Gc não existe nas galinhas e os peixes apenas apresentam traços de Neu5Gc. A lanolina, um composto usado nos shampoos, contém Neu5Gc.


Uma molécula de açúcar pode ser a ligação entre carne vermelha e cancro

O uptake faz-se por macropinocitose e o ácido siálico pode ser transferido para o citosol por um transportador siálico. O sistema imune humano reconhece o Neu5Gc como molécula estranha e a ligação dos anticorpos anti-Neu5Gc podem causar inflamação crónica.
É sugerido que Neu5Gc tem origem na dieta visto encontrar-se em células neoplásicas e, bem assim, em amostras fetais. O Neu5Gc é reconhecido, pelo sistema imune do Homem, como uma molécula estranha e inflamação crónica pode ser causada pela ligação dos anticorpos anti-Neu5Gc.




Correlação entre o consumo de carne vermelha e um maior risco de carcinomas, bem como outras doenças como aterosclerose ou diabetes tipo II, foi verificada através de estudos epidemiológicos.


Existe uma excreção basal de Neu5Gc, sendo esta incorporada em todos os tecidos humanos, sendo que alguns deles são excretados normalmente como cabelo, saliva, muco, sangue ou soro.


A absorpção através do tracto intestinal do Neu5Gc é feita de forma rápida, sendo parte transformada em acilmanosaminas pelas células intestinais e pelas bactérias do intestino, e novamente convertidas no organismo humano em Neu5Gc.




A Neu5Gc ingerida é excretada ao fim de 4-6 horas numa quantidade de 3-6%, com um máximo de excreção às 2-3 horas e um retorno à linha de base às 24 horas. Um aumento é observado do dia 1 ao dia 4, nas mucosas, sendo também encontrado um nível maior de Neu5Gc no cabelo após a ingestão.


O ácido siálico é hidrofílico e apresenta uma carga eléctrica negativa o que leva a que não tenha capacidade de cruzar prontamente a membrana celular hidrofóbica e lipídica.




Moléculas exógenas de Neu5Gc entram nas células, através de vias endocíticas clatrin-independentes, auxiliadas por um processo de pinocitose.

A molécula inflamatória da carne Neu5Gc


Após a entrada no interior da célula do Neu5Gc, por pinocitose, a enzima sialidase lisosómica liberta a molécula sendo então a Neu5Gc transferida para o citosol com a ajuda do transportador lisosómico do ácido siálico ficando o Neu5Gc disponível para a activação e adição a glicoconjugados. Factores de crescimento aumentam este mecanismo. 



Dióxido de titânio e doença inflamatória intestinal