sábado, agosto 31, 2013

Manchas de Gumprecht

Sombras de Gumprecht


Sombras de Gumprecht, também chamadas de manchas de Gumprecht, smudge cells ou basket cells, são artefactos presentes no esfregaço de sangue periférico correspondentes a restos de células frágeis, que foram lesadas no processo técnico de estiramento do esfregaço sanguíneo.
Na maioria dos casos as manchas de Gumprecht representam restos linfocitários, mas a linhagem celular é de muito difícil estabelecimento, dado a célula não se apresentar intacta.
As manchas de Gumprecht representam, desta forma, pequenos linfócitos maturos caracterizados por uma fragilidade peculiar da membrana celular, que leva frequentemente à rotura da célula durante a execução do esfregaço sanguíneo, com formação de restos linfocitários. São portanto células mortas nas quais é impossível fazer a distinção morfológica do tipo celular, mas que frequentemente são de origem linfocitária, podendo também ser derivadas dos neutrófilos, que aparecem frequentemente em doentes com LLC, mas podem também aparecer em outras patologias, e em crianças pequenas sem patologia significativa.
Na realidade, smudge cells são restos de material nuclear condensado, sem citoplasma identificável. O procedimento técnico de adicionar uma gota de albumina sérica por cada 4-5 gotas de sangue, antes do estiramento do esfregaço, resulta no evitar da formação destas manchas de Gumprecht.
As manchas de Gumprecht são principalmente vistas em patologias que se caracterizam por fragilidade linfocitária, tais como LLC ou mononucleose infecciosa.

Estudos apontam, mas precisam de ser confirmados, para o número das manchas de Gumprecht, em valor percentual comparativamente com os linfócitos, se correlacionarem com a sobrevivência nos doentes com LLC.

A formação de smudge cells correlaciona-se inversamente com a expressão da vimentina, uma proteína filamentosa do citoesqueleto, e que parece ser um marcador de prognóstico na LLC.
A  percentagem  de  smudge  cells  é  superior  nos  doentes  com  mutação  do  gene  da cadeia  pesada  da  imunoglobulina,  comparativamente  com  aqueles  doentes  sem  esta mutação ( as imunoglobulinas são formadas pela acção de 3 genes diferentes: um para a cadeia pesada e um para cada uma das cadeias leves, κ e λ ). Importante referir o facto que nos casos de LLC a maioria das células neoplásicas são linfócitos B ao contrário do que acontece no indivíduo saudável em que a maioria dos linfócitos são T.

Quando a LLC avança, surge hipogamaglobulinemia ( carência total ou parcial de anticorpos ). A diminuição do veículo de resposta imunitária, as imunoglobulinas ou sua fracção gama, confirmam o diagnóstico de LLC.
A LLC é uma doença cumulativa e não proliferativa, isto é, os linfócitos neoplásicos que são B e não T, CD 5+, têm um turn over lento, com uma semi-vida muito maior que a do linfócito B normal, talvez por apresentarem um bloqueio da maturação. Na LLC os linfócitos acumulam-se, primeiramente na medula óssea, e passando posteriormente para o sangue periférico, linfonodos, baço e fígado.

A vimentina, uma proteína de 52-58 KDa, da família dos filamentos intermediários, compõe o citoesqueleto juntamente com outras proteínas como a actina e os microtúbulos.
Um monómero de vimentina, bem como todos os outros filamentos intermediários, tem um domínio central em α-hélice, coberto em cada terminação por domínios não helicoidais amino e carboxi. Dois monómeros se retorcem, um sobre o outro, para formarem um dímero em espiral. Dois dímeros formam um tetrâmero que, por interacção com outros tetrâmeros, formam uma folha β.


Vimentina

O alto grau de insolubilidade da vimentina sugere a sua função estrutural no citoplasma como forma de ancoragem da posição dos organelos no citosol. A vimentina está ligada ao núcleo celular, mitocôndrias e retículo endoplasmático. Evidências existem de que a vimentina se associa à membrana nuclear e à membrana citoplasmática, mantendo o núcleo na sua posição e o fuso mitótico, durante toda a vida celular. A natureza dinâmica da vimentina é importante para oferecer flexibilidade à célula. A resiliência que as células têm é proveniente da vimentina, resiliência essa ausente nas redes de filamentos de microtúbulos e actina quando sob stress mecânico in vivo.
A vimentina é a principal proteína responsável pela forma celular, integridade do citoplasma e estabilização das interacções do citoesqueleto. É a vimentina que controla o transporte da LDL-colesterol do lisossoma para o local de esterificação. As células passam a armazenar uma percentagem muito menor de lipoproteínas do que as células normais com vimentina. Essa dependência do armazenamento da vimentina parece ser o primeiro processo duma função biológica em qualquer célula que depende duma rede celular de filamentos intermediários. Este tipo de dependência tem ramificações em células da supra-renal que dependem de ésteres do colesterol derivados do LDL.

A vimentina é fundamental na manutenção da potência do citoesqueleto responsável pela forma da célula e sua resistência a forças externas.
O microambiente extracelular tem a capacidade de modular a organização e expressão dos filamentos intermediários, como a vimentina, durante os diferentes processos pelos quais a célula passa, como adesão, proliferação, migração e diferenciação celular.
A vimentina apresenta-se dispersa por todo o citoplasma e processos celulares, como redes bem definidas, sendo mais densa nas regiões mais distais destes processos.


Vimentina

A vimentina é um, de entre vários, filamento intermediário existente e que faz parte do citoesqueleto.



As células eucarióticas são estruturadas por um complicado sistema de interacções entre os componentes do citoesqueleto e os componentes da membrana plasmática. O comportamento dinâmico e a estabilidade mecânica da arquitectura citológica depende de um sistema de filamentos interconectados, formados pelos microtúbulos constituídos por heterodímeros de α/β-tubulina, microfilamentos formados de actina e filamentos intermediários formados a partir de proteínas fibrosas.
As lâminas nucleares são filamentos intermediários formadoras de um revestimento fibroso no interior da membrana nuclear e que promovem locais de ligação para os cromossomas na interfase e participam na formação de complexos multiproteicos nos poros da membrana nuclear.
A actina e a tubulina são proteínas globulares altamente conservadas, com ligação a nucleotídeos e actividade de hidrólise conhecida, enquanto que os filamentos intermediários são proteínas fibrosas com uma pouco conhecida actividade enzimática. São caracterizados por uma grande região central em α-hélice, denominada “rod” ou “bastão”.


É uma estrutura bem conservada mas que diverge acentuadamente na sua sequência primária com excepção de 2 regiões altamente conservadas nas regiões finais da α-hélice. Os domínios amino-terminais que não fazem parte da α-hélice contêm diversos resíduos de amino-ácidos básicos, com a possibilidade de interactuarem com os domínios ácidos da α-hélice, assim como de formarem locais de ligação com vários componentes celulares incluindo locais de fosforilação.

Os  filamentos  intermediários  citoplasmáticos  agrupam-se  classicamente  em  4  classes ( tipo I a IV ) baseando-se essa classificação na homologia de suas sequências. As lâminas nucleares formam a classe V e actualmente considera-se haver uma classe VI. A vimentina pertence à classe III e é capaz de se polimerizar com várias proteínas como a desmina, proteína ácida fibrilar glial, periferina, NF-L, α-internexina e nestina.



A vimentina é uma proteína presente nas células mesenquimais, de 52-58 KDa, que pode ser fosforilada no resíduo tirosina em várias condições. A fosforilação de proteínas dos filamentos intermediários, como é o caso da vimentina, é uma via que gera várias subunidades solúveis que depois de serem desfosforiladas se apresentam prontas para nova fosforilação. Desta forma a fosforilação-desfosforilação dos filamentos intermediários permitem a modulação dinâmica das redes de filamentos intermediários. A subunidade regulatória da proteína fosfatase A2 e a proteína cinase-α, que se liga a RhoA, têm sido relacionadas com a fosforilação da vimentina in vitro e são co-localizadas com os filamentos intermediários da vimentina in situ.
A vimentina é o maior componente estrutural dos filamentos intermediários em células de origem mesenquimatosa. As subunidades de vimentina polimerizam-se formando um complexo sistema de redes com uma organização radial que se estende centrifugamente até ao núcleo.


Vimentina-actina

As redes de vimentina são coincidentes na localização com as redes de microtúbulos, o que sugere que estes filamentos interagem uns com os outros.


Vimentina-tubulina

A polimerização-despolimerização da vimentina é controlada por um complexo sistema de quinases e fosfatases. A vimentina pode ser fosforilada em serina e treonina. Também o factor de crescimento derivado das plaquetas ( PDGF ) pode induzir a fosforilação da vimentina em tirosina e dessa forma promover a despolimerização em certos segmentos.
Foi demonstrado que a vimentina está relacionada com o controlo da rigidez celular, sendo que a falta de vimentina daria uma maior rigidez às células.

Estudos sugerem existir uma correlação entre a morfologia celular e a expressão de genes do citoesqueleto.
Tubulina e actina encontram-se na célula nas formas polimerizada e não polimerizada, enquanto que a vimentina encontra-se na célula fundamentalmente em forma polimerizada. A vimentina é uma fosfoproteína, sendo a taxa de fosforilação da vimentina maior durante a mitose e estimulação hormonal. A diminuição da taxa de síntese da vimentina parece ser feita ao nível da tradução, porque a actividade do mRNA para a síntese da vimentina é sempre idêntica.
Acúmulo de vimentina fosforilada nas células correlaciona-se com o acúmulo das células em mitose.
Os níveis da expressão da vimentina correlacionam-se com a forma celular e comportamento da mobilidade das células.

O alto grau de sensibilidade da vimentina sugere a função estrutural no citoplasma como forma de suporte e ancoragem da posição dos organelos. A vimentina liga-se ao núcleo, ao retículo endoplasmático e às mitocôndrias, seja lateral ou terminalmente. A vimentina também liga as membranas nuclear e citoplasmática por forma a manter a posição do núcleo e do fuso mitótico durante o tempo de vida da célula. Na mitose, a vimentina é fosforilada no seu domínio amino terminal e dispersa-se em agregados contendo formas filamentosas.

A flexibilidade celular é, em grande parte, devida à natureza dinâmica da vimentina. A vimentina oferece às células a resiliência, ausente nas redes de filamentos dos microtúbulos e actina, quando sofrem stress mecânico in vivo. A vimentina é uma proteína do citoesqueleto que é responsável pela integridade celular, sendo que as células sem vimentina ficam muito frágeis.

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