terça-feira, novembro 27, 2012

Alimentos probióticos, prebióticos e simbióticos

Alimentos probióticos, prebióticos e simbióticos


Alimentos probióticos, prebióticos e simbióticos são alimentos funcionais. Consideram-se alimentos funcionais os alimentos que, além de valor nutritivo, têm também componentes biologicamente activos que oferecem benefícios à saúde e reduzem o risco de sofrer doenças.




Os produtos funcionais apresentam 2 grandes grupos de acção para além da nutritiva: funções de melhoria da saúde e funções de redução do risco de doença.
Probióticos, prebióticos e simbióticos


O facto de que, na ausência da microflora intestinal, aumenta o transporte de antigénios, demonstra a importância desta no sistema de defesa. A principal função da microflora gastrointestinal é prevenir a colonização, por microorganismos patogéneos, por competição pelos nichos ecológicos e substractos metabólicos. O metabolismo microbiano também fornece uma importante fonte de energia para a parede intestinal ( aproximadamente 50% das necessidades diárias ), através da fermentação de carbohidratos e ácidos orgânicos. Outra função da microbiota intestinal é modular a resposta imune, através da indução da tolerância e produção de imunoestimulantes não inflamatórios. Probióticos e prebióticos fortificam a microbiota intestinal.


Os probióticos são microorganismos não patogénicos, com influência positiva sobre a saúde ou a fisiologia do hospedeiro.
O êxito da terapêutica probiótica manifesta-se na normalização da permeabilidade intestinal, melhoria da função barreira imunológica e alívio das respostas inflamatórias intestinais. Os probióticos podem alterar a composição da flora gastro-intestinal, aumentando a microflora benéfica com contrapartida da diminuição da patogénica, mas esta alteração da composição da microbiota não é suficiente para o benefício para a saúde, e, para alguns efeitos como a imunomodulação, não é necessária. Assim postula-se que os probióticos melhoram a saúde do hospedeiro através de factores locais, ligados à capacidade de colonizarem a mucosa intestinal, e por factores à distância, ligados à sua actividade de promoção da imunidade celular e humoral.
Os probióticos comerciais são geralmente misturas de Lactobacillus e Bifidobacterium, ainda que também se usem outros microorganismos, como por exemplo fungos. Os probióticos têm de ser de origem humana, não serem patogéneos, serem resistentes a processos tecnológicos, à acidez gástrica e aos ácidos biliares, aderirem ao epitélio intestinal, serem capazes de persistir mesmo que por curtos espaços de tempo no tracto gastro-intestinal, produzirem substâncias antimicrobianas ( ácidos orgânicos, ácidos gordos, bacteriocinas, etc.), modularem a resposta imune e influenciarem na actividade metabólica.
Os probióticos têm a capacidade de melhorar a digestibilidade da lactose, e assim melhorar a intolerância a este açúcar. O Lactobacillus acidophilus tem importante papel nesta acção. Dois importantes mecanismos foram referenciados: digestão da lactose pelas bactérias e trânsito intestinal mais lento, quando se ingere iogurte, devido à sua viscosidade.
A diarreia, associada a antibioterapia, é devida a um desiquilíbrio microbiano com diminuição da flora endógena, responsável pela resistência à colonização, e da capacidade fermentativa do cólon, muitas vezes devida à proliferação de Clostridium dificille. Efeitos benéficos foram observados com a administração de Saccharomyces boulardii, oralmente, que actuam sobre o número dos C. dificille e suas toxinas.






Alguns microorganismos usados como probióticos com efeitos benéficos
Lactobacillus caseii diminui a diarreia a rotavirus; reduz a ocorrência de cancro da bexiga;
acção imunomoduladora
L. plantarum alivia a sintomatologia do síndrome do intestino irritável; reduz a LDL
L. rhamnosus imunomodulação; alivia a sintomatologia  da DII; tratamento e prevenção  de 
alergias
L. salivarium reduz a sintomatologia da DII
E. coli nissle menores recaídas da DII
Saccharomyces boulardii menores recaídas da DII




Nem todos os probióticos possuem a capacidade de colonização e, neste caso, está o Saccharomyces boulardii que actua de forma ainda desconhecida mas que pode ser por interferência no sistema nervoso ou imune intestinais, favorecendo a produção de compostos inibidores como bacteriocinas ou seus metabolitos ( ácidos gordos de cadeia curta, ácido láctico, ácido acético, peróxido de hidrogénio, etc.), hormonas, neuropéptideos, citoquinas, etc. que influenciam na secreção de água e electrólitos através do epitélio intestinal.
O facto de existirem múltiplos mecanismos de acção, por parte dos probióticos, é uma vantagem importante frente aos agentes quimioterapêuticos, já que dificulta o desenvolvimento de resistências pelos agentes patogénicos.
Os probióticos têm efeito benéfico na inflamação intestinal, onde pode estar implicada como resposta imunológica anormal, geneticamente determinada, face à microflora normal que reduziria os níveis de Lactobacillus e Bifidobacterium.
Diversos estudos demonstraram que alguns probióticos podem diminuir as concentrações fecais de enzimas, mutagéneos e sais biliares secundários que podem estar implicados no cancro do cólon.

A menor exposição a microorganismos, e subsequente menor número de infecções durante a infância, pode ser responsável pelo aumento de prevalência de alergias na sociedade ocidental. De facto, a primeira e massiva exposição, associa-se ao estabelecimento da flora gastro-intestinal, e esta determina o desenvolvimento do sistema imune.

A melhoria do estado geral, ainda que pareça ser evidente, ainda não foi estabelecida, pois faltam estudos em pessoas saudáveis. No entanto, pelo menos em crianças, o consumo prolongado de probióticos pode diminuir o risco de infecções. A imunomodulação, que é atribuída aos probióticos, pode ser escassa em indivíduos saudáveis cujo sistema imune funciona em condições óptimas. Verificou-se que em combinação com vacinação oral os probióticos aumentam os títulos de anticorpos.
Actualmente usam-se os probióticos como mensageiros, que transportam constituintes biologicamente activos ( enzimas, antigeneos, etc.) aos lugares onde actuam no tracto gastro-intestinal. Entre as potenciais vantagens deste processo encontram-se a protecção frente à digestão e os ácidos gástricos e a possibilidade da sua libertação no intestino.




Os probióticos são geralmente ingeridos, adicionados a alimentos lácteos, frequentemente leite, queijo ou iogurte, ainda que também possam ser adicionados a leites infantis ou bebidas à base de soro de leite. Também podem ser administrados como suplementos dietéticos em comprimidos.
Em produtos não lácteos, como alimentos infantis ou doces, onde normalmente não se multiplicam, a sua viabilidade depende de factores como o pH, temperatura de armazenamento e presença de microorganismos competidores e inibidores.
A dose diária de probióticos deverá ser de 10^9 – 10^10 bactérias vivas para atingirem o intestino 10^8 – 10^9 bactérias vivas, dose mínima requerida. Aquele número no entanto não exclui que as bactérias se possam multiplicar na sua viagem pelo tracto gastro-intestinal. O mínimo nível terapêutico efectivo é de 10^5 ufc/ml.

Os probióticos devem ter ausência de actividade enzimática que desconjugem os sais biliares, não podem degradar a mucosa, não causarem agregação plaquetária ou formação de metabolitos indesejáveis. Não podem causar patogenecidade intestinal ou endocardite e não transportarem genes transmissíveis de resistência aos antibióticos. Na literatura só se referem 2 casos de infecções causadas por probióticos ainda que se assuma que ocasionalmente poderiam dar lugar a infecções em indivíduos imunodeprimidos.


Prebióticos são ingredientes alimentares não digeríveis, que afectam beneficamente o hospedeiro mediante a estimulação do crescimento e/ou actividade de uma ou um número limitado de bactérias no colon, ou seja influencia-se na microbiota através da dieta.
A eficácia dos prebióticos liga-se à sua capacidade de atravessar o intestino delgado e alcançar o cólon onde são utilizados selectivamente por um restricto grupo de microorganismos, fundamentalmente Bifidobacterium e Lactobacillus.
Estão entre os prebióticos a inulina, frutooligossacarídeos e outros oligossacarídeos de origem láctea como galactooligossacarídeos, lactulose, lactitol e lactassacarose que têm efeitos bifidogénicos. Outros prebióticos utilizados são os oligossacarídeos de soja, xilooligossacarídeos ( xilose com ligação β 1-4 ), isomaltoseoligossacarídeos e oligossacarídeos transgalactosílados. Os prebióticos não lácticos encontram-se em frutos e vegetais. Apesar da sua origem não láctea usam-se com frequência em produtos lácteos. A chicória é a fonte principal da inulina a partir da qual se obtêm muitos frutooligossacarídeos. Estes prebióticos são fibras solúveis.

A inulina e os frutooligossacarídeos resistem à acção enzimática do intestino delgado específica das ligações α-glicosídicas, mas são fermentadas pelas bactérias do cólon produzindo lactato e ácidos carboxílicos de cadeia curta fundamentalmente ácido acético. Como consequência, verificam-se alterações na composição da flora fecal, devidas à diminuição do pH, que estimula o crescimento e actividade bacteriana e a produção de ácidos gordos de cadeia curta. Um pH mais ácido favorece o crescimento dos Lactobacillus e Bifidobacterium sobre bactérias patogénicas.
A inulina e a oligofrutose possuem efeito laxante dose-dependente. Ao contrário das fibras insolúveis que são laxantes pelo aumento da massa fecal, pela maior retenção de água , estas fibras solúveis exercem o seu efeito laxante devido, fundamentalmente, ao aumento da biomassa microbiana devida à fermentação no cólon.


Os ácidos gordos de cadeia curta jogam papel importante no funcionamento do epitélio do cólon favorecendo o transporte de catiões como o cálcio, magnésio e ferro. O pH mais ácido favorece a dissolução do cálcio. Na verdade confirmou-se o efeito promotor da oligofrutose na absorpção de cálcio através do epitélio intestinal.
Um ambiente mais ácido também reduz a actividade de enzimas procarcinogénicas. Também, a estimulação do crescimento bacteriano no cólon diminui os níveis dos metabolitos tóxicos, devido às maiores exigências de nitrogéneo e enxofre por parte da nova biomassa que, caso não fossem gastas por esta biomassa, metabolizar-se-iam em substâncias carcinogénicas. Desta forma, os prebióticos actuam no combate ao cancro do cólon, tanto por aumento da biomassa que diminui as substâncias carcinogénicas como por reduzirem os níveis e incidência de lesões precancerosas e a incidência de tumores.
A administração de inulina reduz os lípidos séricos devido à inibição da síntese dos ácidos gordos mas este dado, nos humanos, carece de confirmação e parece não se verificar.
A dose diária de prebióticos eficaz é da ordem dos 4-20 g/dia. Doses superiores podem causar flatulência e distensão abdominal. A dieta normal europeia já aporta 1-10 g/dia pelo que o suplemento de prebiótico deve ter isto em conta.

Simbióticos
Para prolongar os efeitos dos probióticos é necessário potenciar sua sobrevivência e assegurar que maiores populações alcançam o cólon e o aumento de tempo de colonização desse meio. Estas acções podem ser facilitadas pelos prebióticos, que combinando-se com os probióticos se denominam simbióticos.




 

Proteínas não lácteas como ingredientes funcionais em produtos lácteos
A fracção proteica da soja, exerce seus efeitos antiaterogénicos, por diminuir significativamente as concentrações de LDL e aumento do HDL. As isoflavinas da soja, que acompanham as proteinas da soja, são antioxidantes, protegendo as lipoproteinas de baixa densidade da oxidação exercendo em geral um efeito favorável na função cardiovascular. As proteinas da soja, desta forma, têm poder de baixar os triglicerídeos, colesterol total e LDL e aumentar o HDL. Recomenda-se uma dose de 25 g/dia ingerida. A soja tem influência positiva sobre o metabolismo do osso, havendo um benefício contra o avanço da osteoporose.

Peptídeos e hidrolisados proteicos lácticos apresentam:
  • propriedades antihipertensivas por inibição do ECA
  • propriedades antitrombóticas por inibição da agregação plaquetária
  • actividade opiácea sobre o sistema nervoso provocando efeito sedativo e analgésico
  • efeitos sobre o sistema imune por actividade imunomodulador e antimicrobiana
  • favorecem a absorção do cálcio no íleo distal
  • acções anticariogénea

Ingredientes funcionais de natureza lipídica
  • Lípidos lácteos: a gordura do leite é o veículo de eleição das vitaminas lipossolúveis A, D, E, K e carotenoides. O ácido butírico tem um efeito trófico sobre as células da mucosa intestinal e tem efeito anticancerígeno ( da próstata, mama e do cólon ). Os ácidos gordos do leite têm actividade antibacteriana e antiviral. O ácido linoleico conjugado, um outro lípido do leite, tem propriedades anticancerígenas sendo a inibição de tumores epiteliais um dos mais descritos. Os fosfolípidos podem favorecer a absorpção lipídica a nível intestinal, e assim melhorar a biodisponibilidade de compostos bioactivos lipossolúveis como vitaminas e carotenoides. Os fosfolípidos do leite também têm acção protectora da mucosa intestinal e acção protectora contra microorganismos patogéneos bem como acção anticancerígena. Os esfingolípidos da gordura do leite também têm actividade anticancerígena, em especial o cancro do cólon.

Os ácidos gordos poliinsaturados omega 3 possuem comprovado efeito contra as doenças cardiovasculares. Possuem também acção anti-inflamatória e acção imunomoduladora.

O dano oxidativo do DNA tem um papel fulcral no desenvolver dos cancros. Uma vez provocada a mutação as espécies reactivas do oxigénio interveem também na replicação e crescimento das células anormais, crescimento de tumor e metastização. A peroxidação lipídica contribui para a arteriosclerose. Assim, pequenas lesões endoteliais atraem e provocam adesão de monócitos, que se transformam em macrófagos, que se carregam de LDL contendo lípidos oxidados. Os macrófagos libertam factores estimulantes da proliferação das células do músculo liso, que dá lugar ao desenvolvimento da placa, que reduz o lúmen do vaso e restringe o fluxo sanguíneo.

Constituintes bioactivos não nutricionais de alimentos vegetais e sua aplicação em alimentos funcionais

Observa-se uma incidência menor em todo o tipo de cancro, e em especial os epiteliais, com um consumo de frutas e hortícolas.
As propriedades anti-oxidantes dos alimentos são das mais importantes, pois os processos oxidativos estão na base de muitas doenças como cardiovasculares, cancro e neurodegenerativas.

A actividade biológica das moléculas oriundas dos alimentos é, comparativamente, mais baixa em relação às moléculas dos medicamentos, pelo que seus resultados são mais tardios.

A modificação oxidativa das LDL se considera que tem um papel crucial na aterogénese, e consumo de frutas e hortaliças, de modo regular, se correlaciona com um menor risco de padecer de doenças cardiovasculares. Pessoas que ingerem quercetina ( um flavenol presente nas cebolas, maçãs, chá, vinho e outras frutas e hortaliças ) têm menor taxa de mortalidade de enfarte do miocárdio e as doenças cerebrovasculares têm uma incidência menor nas pessoas que ingerem kaempferol ( abundante nos bróculos, frutas e outras hortaliças ).
As substâncias presentes na alimentação apresentam as mais diversas propriedades entre as quais:
  • antioxidantes
  • neutralizadores de radicais livres
  • influenciam nos processos de diferenciação celular
  • aumentam a actividade das enzimas relacionadas com a desentoxicação de carcinogéneos
  • bloqueiam a formação de nitrosaminas cancerígenas
  • moduladoras da actividade e metabolismo dos estrogéneos
  • modificam o meio colónico ( flora bacteriana, composição de ácidos biliares, pH, volume fecal )
  • preservam a integridade celular
  • ajudam a manter os mecanismos de reparação do DNA
  • aumentam a apoptose ( morte celular programada ) das células cancerígenas
  • diminuem a proliferação celular tumoral
Os polifenois têm acção sobre o ciclo celular das células tumorais. Isto se demonstrou em células tumorais de várias leucemias, gástricas, pulmão, cólon, bexiga, próstata e do melanoma.


Lípidos como alimentos funcionais

Muitas doenças frequentes, actualmente, como cardiovasculares, artrite reumatóide, doença inflamatória intestinal, doenças pulmonares, cursam com processos inflamatórios crónicos que podem ser modulados em função dos lípidos da dieta. As gorduras poliinsaturadas omega 3, que passam a fazer parte das membranas, são precursores de citoquinas e eicosanoides menos inflamatórios que os sintetizados a partir de ácidos gordos omega 6, procedentes de vegetais como o girassol. O azeite de oliveira tem poder de diminuir o LDL e aumentar o HDL.
Os triglicerídeos são a principal reserva energética do organismo. Contribuem para satisfazer as necessidades de energia e de ácidos gordos essenciais. São também os veículos das vitaminas lipossolúveis nos alimentos.
Os fosfolípidos são componentes estruturais da membrana celular.
O colesterol faz parte das membranas celulares, e é precursor das hormonas esteróides, ácidos biliares e vitamina D.
Os ácidos gordos omega 3 e omega 6 são uns fosfolípidos de membrana. Alguns factores de coagulação são também fosfolípidos.
Os ácidos gordos trans tendem a subir os LDL e baixar os HDL.

Os perfis plasmáticos de ácidos gordos poliinsaturados omega 3 apresentam-se alterados nos doentes com doença de Crohn, devido a uma anormalidade primária no seu metabolismo. A suplementação de azeite de oliveira e óleo omega 3 reduzem as alterações histológicas macro e microscópicas. Também o número  de  células  caliciformes  aumenta significativamente quando a dieta inclui ácidos gordos omega 3.
O ácido linoleico ( omega 6 ) induz a produção de IL8 nas células musculares lisas do intestino de doentes com doença de Crohn, enquanto que a suplementação com omega 3 modifica a composição das células periféricas do sangue e provoca uma diminuição de sintese de PGE2 e interferão gama. As plaquetas e o TXA2 desempenham papel fundamental nas complicações da doença de Crohn, nomeadamente enfartes gastro-intestinais múltiplos, pelo que se deve dar omega 3 para diminuir a resposta plaquetária.

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